Filosofia Humanistica



A unicidade da pessoa e seu meio ambiente A relação entre a vida humana e seu ambiente é explicada em termos de Esho Funi, ou a Unicidade da Vida e seu Ambiente. Esho é a contração dos termos em japonês eho e shoho. Eho indica o ambiente insensível, ou mundo objetivo, e Shoho, a personalidade ativa, ou mundo subjetivo. A sílaba ho significa o efeito manifesto, ou os resultados do carma. Os efeitos do carma de um ser vivo manifestam-se tanto em sua vida subjetiva com em seu ambiente objetivo.

Uma vez que funi significa “dois no fenômeno mas não dois na essência”, Esho Funi quer dizer que a vida e seu ambiente são dois fenômenos distintos mas apenas um em sua essência. As pessoas e seu ambiente são inseparáveis, mas Esho Funi como conceito vai além de indicar apenas a relação inseparável entre ambos.
Muitas pessoas sentem hoje como se não estivessem em equilíbrio com seu meio ambiente, o que parece simplesmente resultar em infelicidade. Mas foi a humanidade que seguiu contra o ritmo do mundo natural, poluindo-o e causando uma crise que começou a manifestar suas conseqüências no meio ambiente. A Unicidade da Vida e seu Ambiente é um princípio que sugere como as pessoas podem influenciar e reformar seu ambiente por intermédio de uma mudança interior, ou a elevação de seu estado de vida. Nesse princípio está contida a idéia de que assim como o ambiente influencia o indivíduo, este também pode causar uma mudança no ambiente.

O ideal é que os seres humanos vivam em harmonia com seu meio ambiente. A pessoa cria sua própria existência única de acordo com as leis da individualização e forma um ambiente único que seja compatível com ela. Mas a formação do ambiente deve coincidir com o surgimento da vida neste mundo; uma pessoa não pode surgir simplesmente flutuando no espaço, sem um ambiente. Cada um de nós tem um ambiente e, no entanto, cada um é essencialmente distinto. Portanto, todos nos relacionamos com nosso ambiente de modo diferente. A maneira como vemos o ambiente difere dependendo de nosso estado de vida e de nossas circunstâncias.

O meio ambiente é um reflexo da vida interior do indivíduo que nele habita. Esse ambiente assume as características que estão de acordo com a condição de vida do indivíduo em questão. Em outras palavras, a vida estende sua influência ao seu redor.

O princípio de Itinen Sanzen inclui a Unicidade da Vida e seu Ambiente. De acordo com os Três Domínios da Individualização da Vida, Shoho corresponde aos Cinco Componentes e ao Ambiente Social e Eho, ao Ambiente Natural. A consciência do ser vivo pode ser descrita como Shoho e os outros quatro dos Cinco Componentes — Forma ou corpo, Percepção, Concepção e Volição — existem para fazer com que o indivíduo interaja com outros seres vivos e com o ambiente natural, que juntos formam o eho. O Itinen Sanzen revela que tanto o Shoho como o Eho são inerentes num único momento da vida. O budismo considera que a vida abrange uma vasta extensão de influência e de atividade que integram tanto os seres vivos como seu ambiente.





A relação entre filosofia e religião Francis M. Cornford, professor de Cambridge, e também outros historiadores ocidentais da filosofia, demonstraram como a filosofia originou-se da religião na Grécia antiga. Por trás das idéias de Sócrates, Platão e Pitágoras estavam as doutrinas de suas religiões. Da mesma forma, a filosofia ocidental começou a se desenvolver a partir da teologia cristã no final da Idade Média.

Os mitos, rituais e ensinos transmitidos desde épocas antigas representam a intuição ou discernimento das pessoas. Aqueles que acreditavam que havia uma verdade neles tentavam colocá-los em prática. Essa é a origem da religião. Em contraste, a filosofia desenvolveu-se graças aos esforços para lançar uma nova luz sobre essas verdades, sistematizá-las e descobrir novas verdades por meio de sua própria metodologia. Desde muito cedo, os filósofos tentavam encontrar uma verdade universal e total e que fosse inerente em todos os fenômenos, e então seus conceitos tornaram-se gradativamente mais complexos com uma nova preocupação com o que estava ao seu redor. Talvez estimulados pelo desenvolvimento das ciências naturais, e também estimulando-as, alguns filósofos concentraram-se em tentar compreender as verdades parciais do mundo fenomenal. Num certo sentido, a ciência é filha da filosofia e neta da religião.

No entanto, a ciência e a religião ocupam-se com as diferentes dimensões da vida. As antigas religiões consideravam os fenômenos naturais e sociais como manifestações da sabedoria e da vontade de um deus. Mas, com o avanço da ciência, suas doutrinas provaram-se inválidas em sua busca da natureza e das questões humanas, e foram sendo descartadas à medida que se tornavam ineficazes em explicar os verdadeiros fenômenos do Universo.

Na Índia antiga, a ciência e a filosofia desenvolveram-se simultaneamente. Foi nesse ambiente que surgiu o budismo. A verdade compreendida intuitivamente pelo Buda Sakyamuni não representa a totalidade do budismo. O Buda e seus seguidores explicaram a verdade sob vários ângulos e deram-lhe uma base sistemática e filosófica. Foi assim que o budismo estabeleceu-se formalmente como uma religião. Nitiren Daishonin, o Buda dos Últimos Dias da Lei, consolidou a iluminação de Sakyamuni e completou o sistema de filosofia e prática exposto pelo budismo.




A compatibilidade de ciência e religião A ciência e a religião foram por muito tempo consideradas incompatíveis no Ocidente. Isso causou várias e sérias disputas, especialmente no início da era cristã. O budismo faz-se ainda mais impressionante quando torna-se aparente que ele não apresenta nenhuma contradição ao fato científico. Isso se deve em parte porque o domínio em que o budismo se abre e faz suas elucidações é completamente diferente da dimensão da ciência.

A ciência investiga o mundo fenomenal onde o homem vive e atua, lidando com os aspectos objetivamente perceptíveis da existência. O aspecto material é apenas parte da realidade, mas os fenômenos físicos são os mais acessíveis a uma mensuração e a uma correlação objetivas. Por essa razão, as ciências naturais se desenvolveram antes que os outros campos da ciência. Os fenômenos sociais foram estudados e examinados, o que resultou no desenvolvimento das ciências sociais. No final do século XIX, as questões humanas tornaram-se um importante objeto de estudo e, posteriormente, resultaram num grande avanço das ciências culturais. Indo mais além, o estudo da mente humana progrediu da superstição e da suposição para o fato comprovável e a teoria fundamentada.

Os domínios daquilo que chamamos de “ciência” estão se ampliando gradativamente, mas uma vez que o “método científico” baseia-se na observação metódica e científica e no raciocínio, é limitado pela sua própria natureza. Há esferas que estão fora do alcance da cognição científica. Essas esferas podem ser compreendidas, mesmo que de algum modo, apenas pela mente intuitiva e subjetiva. Esse método é mais freqüentemente aplicado ao fenômeno social do que à natureza, e mais ao estudo da mente humana do que ao da sociedade. O budismo elucida as verdades com base nas capacidades subjetivas das pessoas, extraindo assim a sabedoria prática da vida.

Em sua busca da verdade, a ciência aproxima-se principalmente do raciocínio analítico e indutivo, ao passo que o raciocínio budista é um método global de dedução e intuição.

Para conduzir uma vida melhor, a cognição objetiva é necessária mas não totalmente eficaz. A ciência desempenha um poderoso papel na cognição objetiva, mas a eficácia com que esse método é utilizado para melhorar a vida das pessoas é decidida pelo grau em que os indivíduos são despertados para a verdade que se encontra nas profundezas de sua vida. É essa a verdade que o budismo elucida. Neste sentido, a ciência e a religião realmente se complementam. Nas palavras de Einstein: “A religião sem ciência é cega; e a ciência sem religião é incompleta.”




A lei da causalidade O budismo ensina que a felicidade humana baseia-se na Lei de Causa e Efeito. Diferentemente do conceito de causalidade nas ciências naturais e sociais, o princípio budista de causa e efeito considera em primeiro lugar a vida da pessoa.

Suponhamos que um aluno estude bastante para um exame e passe com notas altas. O estudo aplicado é a causa e ser aprovado, o efeito. Mas há sempre algum meio que liga a causa ao efeito, e neste caso o meio é o ato de prestar o exame. Tal meio funciona de duas formas: produz um efeito e contribui para formar uma nova causa. No entanto, a mesma quantidade de esforço não necessariamente leva aos mesmos resultados. Alguns estudantes têm naturalmente boa memória, ao passo que outros tendem a esquecer as coisas rapidamente. A questão mais importante é o que produz essas diferenças entre os indivíduos. O budismo atribui a causa ao modo de vida nas existências anteriores. A individualidade e as habilidades naturais são os efeitos das causas realizadas em existências anteriores.

Neste sentido, o budismo é muito diferente da doutrina de algumas religiões ocidentais que sustentam que um ser transcendental predetermina o curso de vida das pessoas neste mundo. O budismo afirma que cada indivíduo é responsável por seu próprio destino e tem ao mesmo tempo a prerrogativa para mudá-lo para melhor e desenvolver seu caráter no futuro. Isso significa que a pessoa com memória fraca não tem de se resignar ao seu destino. Se sabe de seu ponto fraco, pode iniciar os preparativos para um teste bem antes dos outros para que possa memorizar completa e eficazmente as matérias. Assim, poderá superar sua desvantagem. Em vez de depender de sua memória fraca, pode compensá-la aumentando sua compreensão. Estando ciente de seus próprios potenciais, fraquezas e inclinações, é possível desenvolver os pontos fortes e melhorar os fracos. Esta é a maneira correta de superar as limitações do destino. Mesmo assim, deve-se ter força suficiente para desfrutar a liberdade fazendo com que a Lei de Causa e Efeito atue em benefício próprio.

Nitiren Daishonin elucidou a forma de aumentar a própria energia vital e sabedoria para poder atingir a liberdade que está muito além do que se pode atingir apenas com um esforço consciente. Uma vez que o destino é o produto, ou o efeito, dos esforços passados determinados pela lei da causalidade, não se pode evitar seus efeitos. Contudo, a pessoa não deve se resignar. Se permanecer firme no leito do rio da vida, a Lei Mística, que é a entidade da vida, e não apenas as torrentes do carma, ou destino, podem conduzi-lo. Estabelecendo uma base inabalável, pode-se obter a liberdade de agir de acordo com a própria vontade.