Cenas Obscenas
(Luis Bacchi - cineasta)
O espetáculo Cenas Obscenas traz uma nova alternativa para o teatro-dança dos espetáculos paulistanos. Diferente do teatro clássico ou do chamado "teatrão", dos espetáculos de comédia que se propagam feito grama pela cidade e também diferente dos musicais importados do atual "circuito Broadway".
Cenas Obscenas consegue ser diferente dos demais espetáculos, paradoxalmente, por trazer uma série de recursos mais antigos da cena teatral de 2 ou 3 décadas atrás. E ao contrário disso ser um demérito, é uma qualidade do espetáculo porque soube reunir uma série de recursos dramatúrgicos e de dança-canto entre os mais importantes já utilizados no passado. As razões de não serem mais utilizados são diversas, desde a falta de conhecimento e preparo de alguns encenadores atuais até razões puramente comerciais.
Cenas Obscenas tenta e consegue criar um clima de mistério, conteúdos variados, e uma integração muito difícil de ser obtida entre canto, dança e teatro. E isso depende menos de utilizar recursos - atuais ou antigos - e mais do talento da direção e da coreografia. A direção mostra que sabe o que faz e que sabe fazer de forma competente. Os bailarinos-atores-cantores mostram talento e muita vontade de acertar fazendo um bom trabalho, embora ainda com alguns ajustes necessários e a serem feitos - nada que comprometa o trabalho e já mostram os primeiros passos de uma longa carreira que certamente irão trilhar, uns mais outros menos.
Cenas Obscenas, talvez, voluntaria ou involuntariamente, talvez venha a mostra que existe um espaço a ser ocupado no espetáculo paulistano. O sucesso inicial pode nos levar a deduzir que existe uma demanda e um publico para um tipo diferente de espetáculo que não é nem o "teatrão", nem os esquetes de cabaré, nem o circuito importado da Broadway. Com este espetáculo os realizadores podem estar descobrindo que existe um público para algo diferente do que tem sido apresentado nos teatros da cidade. É para se pensar senão existe uma camada que deseja um musical elaborado, mas sem a mega-produção pesada e às vezes enjoativa do tipo Broadway ou off - Broadway. E que também não seja um espetáculo-cabeça dos circuitos intelectual, pseudo-intelectual ou "alternativos".
Os prováveis e futuros espetáculos que Cenas Obscenas podem sugerir e gerar precisam apenas tomar cuidado para não caírem na cilada de espetáculo datado, com encenações e climas melodramáticos que hoje não encontrarão eco no publico atual. Talvez nesse ponto fique o único problema de Cenas Obscenas. E não é um problema que comprometa o espetáculo. Mas ninguém disse ou espera que exista um espetáculo, filme, quadro ou arte perfeita. É preciso notar que os jovens em especial apreciam a grandes violências ou as grandes comédias, desde que rápidas, ágeis, às vezes, infelizmente, sem pensar no elemento humano. Não há mais disposição ou tempo para apreciar durante horas grandes vazios existenciais, tristezas, injustiças sociais colocadas de forma antiga ou dramas sartrianos. O mundo atual definitivamente não tem mais interesse e nem entende - para usar um termo igualmente datado - as "fossas" pessoais e coletivas. Mas não invalida que os jovens da geração da internet, da competição e da velocidade apreciem o musical bem feito, sincero, talentoso e bem dirigido como é o caso do espetáculo Cenas Obscenas.
Ainda quanto a outros aspectos dessa montagem específica, vale ressaltar que a iluminação de César Pivetti, se mostra muito eficiente e contribui de forma muito decisiva para o resultado final e, consegue se manter fiel ao objetivo da encenação e em perfeita sincronia com o resultado esperado. A cenografia também cumpre bem o seu papel. É muito provável que esse espetáculo esteja inaugurando a volta de um tipo de musical que faz falta e que vem a provar a existência de bons profissionais na direção, coreografia e interpretação.
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